sexta-feira, 8 de abril de 2011

Quem tem coragem de dizer que armas são capazes de proteger?


A tragédia de Realengo entrará para a história do País pela sua dimensão dramática - até agora são 12 crianças vítimas fatais mais o atirador - mas também pela sua natureza. Uma situação similar foi vivida em 1999, quando um ex-estudante de medicina atirou contra o público de um cinema, mantando três pessoas e ferindo outras. Mas esse tipo de tragédia não é comum no Brasil.
Estamos diante de uma nova modalidade de violência urbana e de uma nova categoria para o nosso já vasto repertório de medo e insegurança. Até o momento, pouco se sabe com precisão sobre o atirador, suas motivações e o contexto do crime.

É fundamental que a polícia avance na investigação para desfazer equívocos e não alimentar a onda de boatos que foi instantaneamante gerada, que pode reiterar esteriótipos e atrapalhar futuras estratégias de prevenção.

Mas em meio a tantas dúvidas, um fato foi imediatamente reconhecido pela polícia: o revólver 38, usado no ataque, era originalmente uma arma legal, comprada há 18 anos e roubada posteriormente.

A trajetória de uma arma legal ao mercado ilegal e à vitimização de inocentes era um dos elementos mais difícies de serem explicados durante a campanha pela proibição do comércio de armas em 2005. Ontem, o Brasil conheceu esse caminho da maneira mais dramática possível.

O resultado do referendo, que não aprovou o veto à comercialização, somada à ação agressiva do lobby das indústrias de armas, deixou pouco espaço para a discussão sobre a regulação e controle de armas.

Ontem, no entanto, vimos como o País precisa rever urgentemente sua postura em relação ao tema.
Quando a congressista norte-americana Gabrielle Giffords foi atingida na cabeça, durante um tiroteio no Arizona, em janeiro deste ano, os Estados Unidos testemunharam a volta do debate sobre controle da armas no país. A mídia, o Congresso e a sociedade civil organizada enfatizaram a necessidade de revistar a legislação. Infelizmente, a mobilização em torno do assunto foi minguando para ser finalmente abandonada semanas depois.

Não podemos deixar que o mesmo aconteça no Brasil. A sociedade civil tem acúmulo suficiente para recolocar a questão de forma contundente e madura. Vejamos quem, no Congresso Nacional, vai cumprir seu dever, retornar a essa pauta e enfrentar a sempre atuante “bancada da bala”. Devemos isso à vida das crianças assassinadas.

Durante o debate que antecipou o referendo das armas, um argumento comum dos pró-armas era que elas existem para proteger o cidadão de bem. Uma arma legal matou 12 crianças numa escola municipal no Rio de Janeiro. As armas não estão aí para proteger ninguém.
FONTE: Último Segundo. Colunista  Paula Miraglia

Nenhum comentário:

Postar um comentário