Então é isso. Carnaval é imagem. Carnaval é imaginário puro, com pouca, ou nenhuma, possibilidade de simbolização. Carnaval é tempo de barulho externo, e mudez interna. Diz o senso-comum que o superego é solúvel em álcool. Acho que a única forma de o superego se dissolver, não é em álcool, mas em mutismo. Aí acontece que o álcool pode calar o superego. Ou, apenas encorajar as pessoas, que acham que podem fazer muito mais coisas no carnaval do que nos outros dias. Podem realizar suas fantasias. Mas... há algo mais real do que uma fantasia?


As crianças se fantasiam de bailarinas e piratas. Alguns adultos se fantasiam de nus. Outros se fantasiam de pinturas e lantejoulas. Há ainda quem se fantasie de superego mudo. O tempo de duração é relativo, varia entre um dia e uma vida. Tem micareta, pré-carnaval, pós-carnaval, carnatal (Juro! Vi no Wikipédia) e etc. É só querer (ou nem precisa?), que no Brasil, facilmente arranjamos motivos para calar o superego ou para achar que nos fantasiamos. Ou, talvez seja assim em todo o mundo, de diferentes modos. Sei lá.

Algumas pessoas ficam espantadas com as mulheres nuas, nos desfiles. Pois não me parece que elas estejam realmente nuas. Elas estão é fantasiadas. Mesmo a tal da globeleza. Estão fantasiadas com próteses de silicone somada às lantejoulas, com muita maquiagem combinando com os botox. Salto alto é indispensável, assim como o cabelo extremamente enfeitado. Se estivessem nuas, estariam com alguns fios de cabelo despenteados, estrias pintando o corpo, celulites para fazer um efeito alto-relevo, e algumas pelancas, talvez. Mas estas ninguém quer ver desfilar, porque estas, sim, estão nuas.


Pois bem. Na quarta-feira de cinzas tudo passa. Ou um pouco mais pra frente. As coisas se aquietam, algumas lembranças ficam, alguns jingles se recusam a ir embora. É. Nem tudo dá pra dissolver em álcool e mutismo. Há sempre um resto. Pra isso, depois vem a quaresma. Tempo de sacrifício, de pagar os supostos pecados. Mas disso ninguém lembra. Porque no Brasil é carnaval o ano inteiro.